CONHECENDO AZAMBUJA

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sexta-feira, 21 de abril de 2017

Azambuja Dieci anni dopo

Na passagem dos 90 anos de instalação do Seminário Metropolitano Nossa Senhora de Lourdes no Vale de Azambuja em Brusque-SC publico o artigo de minha autoria presente no livro "90 Anos, 90 Momentos" organizado por Ernesto José de Souza, Presidente da AESA (Associação dos Ex-Alunos do Seminário de Azambuja) e lançado neste ano de 2017.





Azambuja Dieci anni dopo

Por: Ricardo Becker Maçaneiro

Dieci anni dopo (Dez anos depois) é o título de um álbum gravado pelo cantor italiano Sergio Endrigo, em que ele, uma década depois de alcançar o sucesso fazia um balanço da carreira regravando seus maiores sucessos até então. O título que dei esse texto faz menção ao disco de Endrigo não por acaso. Quando escrevo esse texto o tempo marca o décimo aniversário do Convívio Vocacional que participei em julho de 2005, portanto, dez anos depois. E quando o texto for publicado, em 2017 serão dez anos depois da minha saída do vale de Azambuja. E assim, com esse texto eu faço um balanço de fatos e de uma vida dieci anni dopo.
É bem verdade que eu já conhecia o vale azambujano bem antes daquele julho de 2005, mas, foi aquele julho de 2005 que mudou a minha relação com o vale e a “Cidade Schneeburg” (Brusque). Se antes eu via a cidade com maus olhos, por motivos que não cabem aqui, dali para frente seria uma relação de amor que evoluiria para uma relação de amor-e-ódio, por muitas coisas que viriam a acontecer nos anos seguintes. Mais amor que ódio, diga-se.
A questão é que lembro-me muito bem do que vi e senti ao passar de táxi pelo mercado O Barateiro. De lá é possível ver já o imponente prédio do “educandário de cem metros”, mas o que realmente me chamou a atenção foram, lá longe, as torres do Santuário de Nossa Senhora de Azambuja. Todas as vezes, nesses anos todos, que passo por lá e tenho essa visão o sentimento é o mesmo. É como se uma inexplicável “força” fizesse a alma estremecer e encher-se da presença divina e de emoção.
Quando desci do carro e olhei o imponente “Seminário Metropolitano Nossa Senhora de Lourdes” e as construções do “Complexo” ao redor senti que estava num local sagrado. E de fato era e é, mas isso só fui entender depois. De fato, vivi aqueles breves dias do Convívio Vocacional extasiado, num ambiente que emanava a presença divina. E os meses seguintes vivi na expectativa da volta ao vale. Ainda tivemos o brevíssimo Encontrão em novembro e em janeiro de 2006 o Estágio Vocacional – naquele tempo era assim que funcionava.
Durante o Convívio Vocacional conheci, passando pelo corredor, com os famosos pigarros, o Monsenhor Valentim. Quando brevemente passou pela extinta sala do Básico para nos ser apresentado tive uma ‘estranha’ sensação de estar conhecendo um santo. Mais tarde conhecer sua história e conviver com ele em seus últimos meses de vida tive certeza disso.
O Convívio Vocacional se deu às vésperas das comemorações do Centenário de criação do Santuário de Azambuja e foi vivido nesse clima de festa. Foi também o canto de cisne da “reitoria caonística”, pois em janeiro, quando chegamos para o Estágio o Reitor já era o simpático Padre Siro Manoel de Oliveira.
Em fevereiro de 2006 iniciei o Propedêutico. Nossa turma “Éramos Seis” foi a última a iniciar a formação. Menores e Filósofos já estavam há uma semana no Seminário. O Propedêutico residia no chamado Dormitório I (o que ficava com vista para a Rua Azambuja, já que o Dormitório do Menor, do lado oposto, por ser o mais novo era chamado de III e o do meio era o fantasmagórico Dormitório II, que servia de depósito e “Cemitério de Livros”).
A ala propedêutica, que já havia sido residência filosófica, parecia uma verdadeira casa com quartos separados, capela, sala de aula, sala de estar, sacristia, banheiros e um grande saguão. E o clima era dos melhores, de fato. Havia um clima de respeito e confiança e durante aquele ano nunca houve grandes discussões, nenhum “barraco”. Apesar disso nossa comunidade por vezes parecia um barco à deriva, pois, não se sabia muito bem o que fazer com o Propedêutico.
De modo geral ficávamos a mercê das atividades do Seminário Menor, embora os formadores fossem diferentes e a própria formação também. No fim das contas dependíamos mais do Padre Pedro Schilichting (formador do Menor) do que do nosso formador (Padre Antônio Luiz Schmitz). Em compensação nossa comunidade era a que mais convivia com o Reitor, Padre Siro, pois tínhamos sagradas aulas de Latim com ele. Essas aulas acabavam sendo de conhecimentos gerias, pois, sempre davam margem a rememorações das viagens de estudo do Padre Siro durante o Curso Bíblico ou do seu tempo de seminarista. Graças a isto acabei tomando para mim um bordão característico do Padre Siro: Madonna!
Já a Filosofia (tendo como formador o Padre Alceoni Berkembrock) levava uma vida bem à parte. Era, de fato, uma comunidade separada. Isto ficava bem explícito no antigo grande refeitório: menores e propedeutas tinham suas mesas logo à entrada do refeitório, enquanto os filósofos ficavam lááá no fundo, no extremo oposto. Em fevereiro de 2007 essa divisão nas refeições caiu por terra quando passamos ao “Refeitório dos Arcos do Triunfo” (onde antes era a Sala do Básico). Nesse novo refeitório ficariam todos juntos, inclusive os padres, que antes tinham um refeitório próprio.
Em verdade tínhamos (menores e propedeutas) pouca convivência com os filósofos porque a rotina era diferente. Só os víamos nas refeições maiores e uma vez por semana no esporte e no trabalho. Aos fins de semana, por causa da Pastoral externa deles a ala filosófica ficava um deserto. Naquele tempo a ala filosófica era um longo corredor livre, acessível pelas escadarias, e portanto, passagem obrigatória entre um andar e outro. Aliás, essa era a grande diferença entre essa comunidade e as outras: Menores e Propedeutas ocupavam os dormitórios e outras áreas comuns espalhadas pelo grande seminário, enquanto a filosofia ficava toda concentrada num só corredor com os quartos de um lado e as áreas comuns de outro sendo que quase não se via os filósofos, que ficavam nos quartos, enquanto que menores e propedeutas quase sempre estavam juntos nas salas de estudo ou dormitórios. Essa diferença de “modus operandi” era o que mais diferenciava uma etapa formativa “menor” de uma “maior”.
Algumas peculiaridades da casa: um ponto de encontro comum para conversas rápidas em intervalos era o “fofocorum” (conforme alguns o chamavam), que era o lugar onde ficava o bebedouro e o telefone do Menor, no 1º andar, em frente à antiga sala de rádio e a escadaria central. Ali era um bom lugar para se saber “as últimas novidades”. Coisas de um tempo em que se pensava que, como dizia o Padre Rafael Alex, “seminarista não é samambaia para ficar parado” (espírito ainda da formação do Padre Jaime de Barros Câmara). De fato o ócio não era muito bem visto.
Momento muito esperado do dia era o lanche da tarde, mas também o da noite!), muito comumente composto por café ou suco e o lendário Bolachão, produzido, então, na Padaria do Hospital. Aliás, cabe comentário sobre as relações do Seminário com o Hospital: até 2006 duas alas do Hospital prestavam serviço ao Seminário: Lavanderia e Padaria. Diariamente duas “vítimas” filosofia, uma do Menor e uma do Propedêutico iam logo após o café da manhã à Lavanderia levar as roupas sujas em dois enormes cestos e de lá trazer as roupas limpas, que sempre vinham sempre com um “cheirinho de hospital”, graças a um produto desinfetante que se usava para evitar contaminações. Era um produto tão forte que algumas roupas desta época ficaram para sempre com o tal cheirinho...
A Padaria do Hospital era um local curioso. Permanecia sempre quente, independente das condições climáticas. Funcionando no térreo da casa das irmãs, ir até lá era ter um privilegiado contato externo com essa misteriosa residência. E ao mesmo tempo era uma “aventura” passar sempre em frente ao necrotério. Da Padaria vinham pães, bolachões e cucas. Estas eram encomendadas em tal quantidade que iam sendo esquentadas e requentadas até findar-se a semana...
Porém, contudo, todavia...com a chegada do Padre Siro algumas coisas quase seculares foram sendo modificadas, porque os tempos e as necessidades mudam. Àquela época as obras do Complexo de Azambuja (Hospital-Asilo, Santuário, Seminário e Museu) estavam por demais interligadas, o que durante um tempo foi muito bom, mas que com o passar dos anos se viu necessário dar independência maior a cada obra. Por isso ao longo de 2006 o Seminário passou a ter lavanderia própria e no ano seguinte os serviços de panificação também não mais seriam comprados do Hospital.
Falando-se em obras...a melhor palavra que resumo a “reitoria siríaca” é “reforma”. Durante a década de 2000 havia-se reformado a praça de Azambuja, demolido-se o Edifício do Peregrino e construído um novo complexo com banheiros e lojas comerciais e por fim havia sido feita a reforma do Museu em 2005. Mas as demais obras pediam intervenções. Assim, Padre Siro, como tríplice reitor (Santuário-Seminário-Museu) foi pondo mãos à obra. Desse modo foram reformadas a gruta, as imagens do Morro do Rosário, partes do forro e telhado do Santuário e, por fim, partes do Seminário (essa obra, que foi sendo feita aos poucos ao longo dos anos não foi terminada ainda por falta de verbas e por ser um tanto delicada, dado o tamanho do “Educandário”; eu mesmo na época dizia, em tom de brincadeira, que foram sete anos para construir e serão necessários setenta para reformar...).
E a rotina? Despertava-se pelas seis da manhã. Os menores eram despertados sempre por músicas programadas na sala de rádio num volume que se ouvia do outro lado do prédio, no Propedêutico! Os cd’s mais ouvidos eram dos Cantores de Deus muitas vezes com “Pueblos Hermanos” e aí era um tal de “Pueblos hermanos de América/ Pueblos hermanos de América/ Luego, luego llegará/ Luego, luego llegará/ Pueblos hermanos de América/ Pueblos hermanos de América/ llegará la igualdad”.
As orações no Menor eram terreno para a criatividade, pois os hebdomadários preparavam cada dia “algo diferente”. No Propedêutico e na Filosofia rezava-se a Liturgia das Horas. Mas, na 6ª feira de manhã íamos todos ao Santuário para, solenemente, rezarmos as Laudes às 6h no início da adoração eucarística que ia até às 18h30. Às 7h Menores e Filósofos dirigiam-se ao colégio e faculdade e o Propedêutico tinha uma hora livre para que às 8h iniciasse as aulas. Português (Padre Pedro e o verbo Apropinquar na Novíssima Gramática, Filosofia (Padre Antônio), Ensino Religioso (Padre Alceoni), Latim (Magister Sirus pueri pigri educabat cum Gradus Primus), Espanhol (con la queridissima maestra Valdete Trainotti, “La Chica”). À tarde havia dias para estudo e dias para trabalho e esporte. O trabalho no bosque costumava ser gostoso, pois não tinha grandes dificuldades em se roçar com as famosas foicinhas. Mas trabalhar no Morro do Rosário era um suplício, dada a dificuldade de se equilibrar nos declives nada estáveis de lá, somada a terra deveras pedregosa e seca.
Da Missa se participava onde dava: às vezes em cada comunidade (eu era o sacristão do Propedêutico e ficava de cabelos em pé quando até cinco minutos antes do horário não se sabia se teríamos missa na nossa pobre capelinha ou não), às vezes conjuntamente na Capela Cristo Rei ou muitíssimas vezes no Santuário.
Algo bonito de ser ver diariamente ara a reza do terço ao fim da tarde. O modo de se rezar era livre, mas, o costume era de se rezar em dupla pelo jardim do Padre Afonso Reitz, terminado na Gruta das Bromélias. Era um momento agradável e foi assim que tomei amores pela aceroleira do jardim a ponto de plantar uma semente dela na minha casa em Navegantes que se tornou meu chamego particular.
Como já disse, nesse tempo Monsenhor Valentim vivia seus últimos meses terrenos e com o Mal de Alzheimer sempre piorando. Eu tinha um carinho e cuidado quase excessivo com ele, mas de longe, para não parecer invasivo. Monsenhor sempre andava pelos corredores, rezava o terço e participava das atividades rotineiras da casa, apesar do psíquico afetado pelo mal. Eu costumava ficar de olho nele –assim como os demais-  porque constantemente ele se perdia no seminário o que demandava paciência para lhe explicar onde ficava seu quarto. Houve um domingo cuja tarde inteira gastei com ele à procura de uma chave que até hoje não entendi qual era. Mas era assim mesmo, não dava para deixar alguém tão perdido sozinho. Tenho pra mim que uma das piores doenças que pode acontecer a alguém é o Mal de Alzheimer, pois vai tirando um dos bens mais preciosos do Ser Humano: a consciência. Por fim, quando Monsenhor se foi senti um enorme vácuo no Seminário. De fato, depois de décadas, o Seminário perdia uma das suas figuras mais importantes. Mas a engrenagem dos tempos é assim mesma.
Continuando: as Bibliotecas eram os ambientes que eu mais frequentava na casa, sempre na sede de conhecer. Graças a isto muito cedo pude ler os livros que contavam a História de Azambuja e da arquidiocese de Florianópolis. O autor que eu mais li foi o Padre José Artulino Besen, meu inspirador maior no estudo de História Eclesiástica! Nada disso era aleatório: eu tinha como verdade a expressão “só se ama o que se conhece”. Mais que isso só é possível compreender conhecendo. Como Azambuja era um local muito importante e eu estava lá eu quis conhecer bem o lugar e para isso se fazia necessário o estudo histórico. E que bela história descobri! E a partir daí meu amor ao vale só se fez aumentar. Mais que isso eu pude entender porque o povo azambujense agia como agia. Por isso não tive grandes problemas nos trabalhos pastorais no Santuário, pois já sabia onde estava pisando.
Falando em Santuário: a relação Seminário-Santuário sempre foi muito próxima, não só fisicamente e isso sempre foi assim, como se sabe, desde 1927. Mas às vezes a situação era conflituosa. Naquele 2006 havia certas coisas que causavam um certo incômodo: uma era o excesso de dependência pastoral do Santuário em relação ao Seminário, que foi diminuindo com a partir da reitoria siríaca. Isto porque Padre Siro sabiamente desejava ver o Santuário erigido em paróquia, como depois se fez. Com isso o povo foi participando mais e mais das atividades. Uma coisa que incomodava naquela época era a Missa da Catequese. Isso porque ela era celebrada às 7h30 de domingo! Era um sacrifício convencer pais e catequizandos a estarem tão cedo no Santuário em pleno Domingo. Em 2008 essa missa foi transferida para o horário noturno do sábado e o horário dominical das 7h30 foi extinto.
Quem mais sofria com os horários de Missa do Santuário eram os músicos da banda Uirapuru. Isso porque tocavam/cantavam na Missa das 6h, depois às 7h30 e uma vez por mês na Missa das 8h45. Quando eu entrei na Banda eu vivi isso na carne e nas cordas vocais! Acordava às 5h30 aos Domingos para cantar às 6h e depois às 7h30.
A Missa das 6h era uma tanto pitoresca. Às 5h55 quando tocavam os Sinos do Santuário uma senhora levantava do meio da assembleia e puxava o Ângelus. Todo Domingo! E apesar do horário cedíssimo o Santuário ficava sempre cheio!
Nessa época a Banda estava em uma formação bem eclética: Pianista (José Hermínio Santana), Violonista (Álvaro Emanoel), Violinista (Adriano Milczarski, que também é um pianista de mão cheia e me deixava embasbacado diariamente quando aventurava-se nos pianos da casa!), Bateirista (Felipe Candin), Baixista (William Smaniotto) e Vocalistas (Ricardo Marques, Jonathan Speck, Edgar Cardoso e depois ainda Ricardo Becker Maçaneiro).   
Junto com a banda ainda o coro dos seminaristas ainda cantou na tradicional Missa na TV na TV Barriga Verde em Florianópolis (mas o meu nervosismo foi tanto que acabei passando mau no começo da Missa, tendo que abandonar o estúdio!). Momento de festa foi também o 15º Congresso Eucarístico Nacional, em Florianópolis. De fato o Brasil em sua imensidão foi representado por pessoas de diversos lugares que foram encontrar o Senhor na cidade que “alargou suas pontes”.
As três festas (Meio, Julho e Agosto) também sempre são momentos épicos da vida dos seminaristas. Na Festa de Maio (Nossa Senhora de Caravaggio) quase enfartei com a demora de dom Vitus em conversa com Padre Nélio enquanto a procissão já ia chegando no Barateiro e nada da conversa acabar. Nessa festa a Irmã Teodata, segundo testemunhas, realizou o “milagre da multiplicação do leite”. Juro! Veja só: mandou encher as talhas de água, jogou uma garrafa de leite, pronunciou umas palavras e mandou servir esse leite no café! Coisas de festa!
Um local sempre interessante de se trabalhar nas festas é a Barraca do Cachorro-Quente. Além de ser sempre animada ali também nunca se morre de fome!
Na festa Julhina fui a Galinha do Boi-de-Mamão. E que roupa pesada! A apresentação fez tanto sucesso que a repetimos no SESC. E lá fui eu de galinha de novo. Ô dó!
Na Festa de Agosto (Nossa Senhora de Azambuja) fui trabalhar na Barraca do Café com Cuca. Isto significou ir para a barraca às 4h! Apesar do frio foi muito bom, graças a simpatia de sempre das boas pessoas que se doam nesses trabalhos. Também aprendi que sempre gostei de “café pingado”: muito café e pouco leite. Coisa dos paulistas. Já para Missa fui um dos cerimoniários e isso demandou muito trabalho de organização da Missa. Difícil mesmo foi conduzir a procissão do Seminário ao Santuário, pois isso significava ir à frente de todos o que exige muito autocontrole para não cometer deslizes, ainda mais em um evento tão importante e que me é tão caro.
Já que toquei no assunto das artes, em 2006 não faltaram momentos artísticos. Em abril tivemos um Sarau  nele cantei pela primeira vez no Seminário (Trigo Verde, do Padre Zezinho).
Ainda tivemos o memorável Concurso de Oração, Mensagem e Homilia. Memorável porque um dos grupos apresentou a evolução da Missa começando com Jesus em aramaico na última ceia, passando pelo Rito Tridentino e chegando no Novus Ordo de Paulo VI. Igualmente bela foi a reconstituição da vida de João Paulo II. Nesse Concurso eu estava na organização e achei o máximo estar nas coxias. Na verdade sempre gostei de atuar nos bastidores e na organização. Depois houve uma exposição cultural que tive que entrar à força na organização e que me deu muita dor de cabeça e um público pífio, um verdadeiro desastre. E ainda tive que “pintar um quadro”. No caso resolvi eternizar a imagem de “Nossa senhora do Bom Senso”, que eu sempre invocava em momentos necessários...
Por fim, em outubro tivemos a pérola máxima: O Concurso Musical. A banda o inicial cantando, de pijamas, Lua de Cristal, tendo uma enorme lua de celofane no cenário. Pelo que lembro foi um momento de êxtase, pois, como já indiquei, havia bons músicos no Seminário e aqui os filósofos participaram. Tive a alegria de tirar o 2º lugar na categoria “popular” com Além do Arco-Íris (versão de Over the Rainbow). E ainda tirei 2º lugar na categoria “composição” com o imortal “Hino Azambuja-Vale de Graças” (que na verdade foi o pontapé inicial para uma obra bem maior que permanece quase inédita, a Opereta Azambuja Vale de Graças).
Por conta da Banda Uirapuru, da Catequese e dos serviços litúrgicos que prestávamos ao Santuário eu acabava participando ativamente da vida pastoral do Santuário. A mais singular delas era a reunião mensal da Liturgia, isso porque quase sempre surgiam discussões que soavam um tanto quanto pitorescas. Principalmente quando se decidia algo lá e os eternos faltosos ficavam bravos com as mudanças porque “não haviam sido consultados ou informados”. Mais pitoresca foi a Assembleia de Pastoral quando muitas ideias para melhorar a vida no vale surgiram. A mais curiosa de todas: instalar um bondinho que ligasse o Morro do Rosário ao morro do lado oposto da Rua Azambuja. Qual não foi o riso ao se imaginar as irmãs abanando aos visitantes diretamente da casa delas...
Falando-se em morro, uma coisa que atrapalhava a nossa vida eram misteriosos incêndios que ocorriam, geralmente, ao fim das tardes no Bosque e costumavam ser pressentidos quando a internet à rádio caía. Naquele tempo os portões da estrada traseira não protegiam lá muita coisa e era muito comum pessoas subirem até lá em cima de bicicleta ou moto, não se sabe bem para que. Uma bela noite estávamos todos prontos para irmos a uma pizzaria quando apareceu fogo no bosque. E nosso passeio virou cinzas! Para remediar os padres encomendaram pizzas para os bombeiros famintos, mas não foi a mesma emoção de uma saída...
Os Domingos à tarde eram livres até às 18h e, como menores e propedeutas ficavam em casa, ao contrário dos filósofos que tinha a pastoral externa, os “livres” costumavam sair no Domingo à tarde. Ir ao centro não era um bom programa nessa época, pois se encontrava quase tudo fechado. O jeito por vezes era fazer um lanche em uma das lanchonetes ali da praça mesmo, a famosa “Tia”. Era também ocasião de se subir o Morro do Rosário e mais do que subir por fé ter uma vista privilegiada da região. Também poder-se-ia visitar o Museu, mas isto era raridade. Eu costumava fazer esse passeio turístico religiosamente todo domingo, terminando no Museu. Nunca me cansei de observar os detalhes da Nossa Senhora da Vitória, dos quadros de Heinrich von Graf, dos animais empalhados pelo Irmão Luiz Gartner SCJ ou, principalmente das vestes solenes de Dom Joaquim. Até hoje visitar o Museu me dá enorme prazer!
Mudando o ano para 2007, algumas mudanças: agora eu estava na Filosofia, que me causou enormes estranhamentos. Para começar, o isolamento. Está certo que já no Propedêutico tínhamos quartos separados, mas o ambiente era muito comunitário. Na filosofia parecia que tudo tendia para o isolamento. O ritmo da faculdade parecia fechar cada um em seu quarto, para se ocupar com os estudos. Isto aliado a uma falta de entrosamento entre veteranos e novatos só fez piorar a situação. Num ritmo muito lento as coisas foram evoluindo. Mas, para mim este período foi um tanto ruim. O que melhorava o desconforto era a pastoral em Nova Trento (Matriz São Virgílio) e as conversas diárias com meu amigo e colega de turma, William Smaniotto, figura um tanto singular no seu jeito sincero e orgulhoso de ser que provocava amor ou ódio, nunca o meio termo. (Infelizmente William partiu cedo para a eternidade, em 2014, depois de longa e dolorida doença, o que me deixou muito triste, pois havia pouco tempo que outro colega, Luiz Carlos Eccel também tinha falecido num verdadeiro martírio em prol da Arquidiocese de Florianópolis).
No fim das contas as minhas duas turmas foram se diluindo. Não sobrou ninguém nem da turma que fora do Propedêutico nem da turma que foi o 1º Ano de Filosofia de 2007. A minha saída se deu em julho de 2007. Tenho pra mim que tamanho desastre seja fruto de uma administração equivocada dessas vidas todas. Ao meu ver é estranho pensar que de um grupo de quinze pessoas em quatro anos não tenha sobrado ninguém.
Apesar de tudo nunca mudei meus sentimentos em relação à Azambuja, somente em relação a algumas pessoas que prejudicaram o bom andamento das coisas, pois acho que houve equívocos pelo caminho, também de minha parte. Mas sempre acreditei que os erros que cometi foram pensando no bem do Seminário, de Azambuja, da Arquidiocese e da Igreja como um todo. E assim a vida prossegue. Sempre que é possível tenho estado em Azambuja à passeio ou para alguma atividade. E assim sempre será.
Termino com meu atestado maior de amor a Azambuja, o Hino “Azambuja Vale de Graças”:
Azambuja vale de graças. Onde cantam canarinhos alegres.
Tuas águas são puras e bentas. E o teu céu é tão azul.
1-Em tuas terras brotam tantas bênçãos; é um lugar de grande devoção. Um lugar onde se adora o Deus Trino, e tem-se a proteção da grande mãe.
2-Em tuas terras se sente bem acolhido, é uma santa casa de misericórdia. Um lugar onde Deus se faz presente, e tem-se o olhar da grande mãe.
3-Em tuas terras frutificam vocações, o ensino é o teu grande dever. Um lugar onde se escuta a voz de Cristo, sempre se contando com a grande mãe.
4-Em tuas terras surgem tantas lembranças; de uma época de ouro, gloriosa. Época e grandes acontecimentos, sob a intercessão da grande mãe.
5-Em tuas terras se medita o Rosário, os mistérios da vida do Salvador. Pedindo o auxílio de Maria, sua mãe. Que é tão bondosa, é uma grande mãe.
6-Em tuas terras muitos foram bem amparados quando o peso da idade chegava. Um lugar de muitos bem-intencionados, sob o olhar da grande mãe.

7-Em tuas terras muitas coisas foram feitas e com certeza muitas outras se farão. Pela providência da Trindade Santa e sob a intercessão da grande mãe!



O Convívio Vocacional de 2005

Assim era em 2005





Dom Joaquim: referência de presidência na solicitude































 Santuário de Santa Paulina, Nova Trento


 Fazenda Brilhante


































































































































Memorial Azambuja Vale de Graças:



Bônus!
O referido álbum de Sergio Endrigo: Dieci Anni Dopo!