CONHECENDO AZAMBUJA

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus em Azambuja


 A Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus
Origem e Difusão

Aos 28 de Junho de 1878, no seu Colégio Diocesano de Saint-Quentin (França), o Cônego francês Leon Dehon fundou a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (SCJ). Também conhecidos como Dehonianos. Desde a primeira hora, associaram-se-lhe alguns sacerdotes diocesanos.




Estando a atmosfera político-social de sua pátria adversa a seminários religiosos, o Pe. Fundador foi à procura de espaço vital fora de seu país. Encontrou-o na tranqüila e católica localidade de Sittard (Holanda). Nela ergueu seu grande Seminário Pioneiro (1886). Rodeado de fronteiras próximas de vários países, foi logo recebendo vocacionados dehonianos da França, Holanda, Alemanha, Luxenburgo e Bélgica. O seminário nasceu, pois, com a marca da internacionalidade e, assim, com a vantagem de rápida difusão
A mais que centenária Congregação se apresenta dividida em vinte Províncias (com autonomia) e três Regiões Missionárias (a caminho de autonomia).


Espiritualidade e objetivos

Todas as Ordens e Congregações Religiosas se propõem o mesmo fim geral: a promoção da glória de Deus e a santificação dos seus membros, mediante a prática dos três votos religiosos: de obediência, castidade e pobreza, e pela observância de Constituições próprias.
Mas a realidade da Vida Espiritual e da Igreja é de riqueza e variedade tamanhas, que, para vivenciá-la com mais intensidade, se faz necessária a opção preferencial por um que outro de seus aspectos. Neste sentido, e movido carismaticamente pelo Espírito Santo, Pe. Dehon sentiu-se atraído para dar à sua vida pessoal e à de sua Congregação este fim especial: a Devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Mais que afetiva e de bons sentimentos, é devoção empenhativa. Assim explicada pelo Pe. Fundador: O verdadeiro espírito da Congregação – escreveu ele na sua Constituição (1885) - é um ardente amor ao Sagrado Coração de Jesus: é fiel imitação das suas virtudes, particularmente da humildade, da mansidão e do espírito de imolação, e zelo infatigável em suscitar-Lhe amigos e reparadores.
Quando Jesus Cristo entrou em nosso mundo, expressou o seu compromisso redentor, dizendo: Eis-me aqui, ó Deus, para fazer a tua vontade (Hb 10, 8-9). Em língua portuguesa, a declaração reduziu-se a eis-me aqui; em latim, ecce venio. Pe Dehon fez desse elevado propósito o lema predileto da Congregação. Via nele uma força geradora de vida religiosa e apostólica tão intensa e abrangente, que dizia traduzir-se, por ele, toda a vocação, o fim, o dever e as promessas dos religiosos de sua Congregação.
Porque ecce venio significa disponibilidade. No caso, a de um religioso sempre à escuta e a serviço das necessidades que vão despontando nos horizontes da vida da Igreja e do Mundo. Atitude animada de amor a Deus e aos homens. Amor impregnado do espírito de reparação, porque empenhado na reconciliação dos homens com Deus e entre si mesmos. Ainda que ao preço de imolação pessoal, que significa a disposição de sacrificar-se por amor ao Coração de Jesus.
O Venerável Fundador precedeu-nos com o exemplo dessa vida espiritual. Viveu-a em profundidade através dos votos religiosos, animados da devoção ao Coração de Jesus. Ideal a que consagrou sua nobreza de família, suas riquezas, seus notáveis dotes intelectuais, suas promissoras perspectivas de carreira brilhante – assim no Mundo como na Igreja -, suas muitas viagens e peregrinações, seus trabalhos, fracassos e sofrimentos. Enfim, de toda a sua vida: humana, cristã, religiosa e sacerdotal, ele soube fazer, com a graça de Deus e no Coração de Jesus, uma hóstia espiritual, um ecce venio encarnado para a glória de Deus e a salvação das almas.
Para que essa vida religiosa no Coração de Jesus pudesse lançar profundas raízes na Congregação, e a partir das primeiras gerações, o Pe. Fundador teve a feliz inspiração de escolher, para primeiro Mestre de Noviços, ao Pe. André Prevôt, doutor em Teologia, e “doutor” em Vivência Cristã, segundo a espiritualidade própria de sacerdote religioso do Coração de Jesus.
A exemplo de tantas Congregações, também a Dehoniana é de natureza contemplativa e apostólica. Sua vida religiosa de convento há-de transbordar em atividades benfazejas a seus semelhantes no mundo (S. Tomás).
Além da realidade pastoral do seu tempo, Pe. Dehon levou em conta o movediço dos tempos e das culturas, não se fixando muito em determinada obra apostólica. O próprio ecce venio já implica disponibilidade. Vale dizer, certa mutabilidade circunstancial da parte da Congregação ante os “sinais dos tempos”, indicadores que são de necessidades novas na Igreja e no Mundo.[3]
No entanto, continuam plenamente válidas as principais orientações de ordem pastoral traçadas pelo venerável Fundador: (a) a pregação da Palavra de Deus em missões populares, exercícios espirituais e catequese; (b) a educação da juventude em seminários e colégios; (c) a formação do clero e do laicato; (d) o empenho pela justiça social, em apoio aos pobres e marginalizados; (e) bem como o apostolado missionário em terras longínquas.


A Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus em Santa Catarina

Assim teve início a Congregação, hoje existente na universa terra. Também no Brasil. É que o Revmo. Pe. Fundador era muito pelas missões. E como Pe. Thoss, 1º Procurador das missões, lhe apresentasse um dia novo plano de atividades missionárias para os padres alemães, logo obteve a mais calorosa aprovação, acrescida da orientação de pôr-se em entendimento com Pe. Lux, que vinha de regressar do Congo Belga por motivos de saúde. Foram expedidas car¬tas, neste sentido, ao Bispo de Porto Alegre, a Mons. Topp, de Florianópolis, e ao Pe. Carlos Boegershausen, de Joinvile, que imediatamente responderam, fa-zendo as mais convidativas propostas acompanhadas da insistência de virem quanto antes. Decidiram-se por Santa Catarina, atendendo a M. Topp.
Foi em 15 de junho de 1903. À tarde, após a bênção solene na capela do Seminário de Sittard (Holanda), reúnem-se todos, mestres e alunos, no amplo salão nobre, para homenagear a dois missionários: Pe. Gabriel Lux e Pe. José Foxius. Após vários cânticos e discursos de despedida, também eles fizeram uso da pa¬lavra. Pe. Lux descreveu suas atividades missionárias no Equador, donde fôra expulso pelos agentes da maçonaria, descrevendo, a seguir, o país e o povo que formaria seu futuro campo de ação: Brasil Meridional.
Até Paranaguá (Paraná), viajaram a bordo do navio brasileiro "Maceió". De lá, com o navio costeiro "Max", até Florianópolis, onde Pe. Foxius aportou aos 15-07-1903. Como Pe. Lux viesse mais tarde, por haver ido a Curitiba cumprimentar o Sr. Bispo Diocesano, D. José Camargo de Barros, Pe. Foxius foi hospedado por alguns dias na casa paroquial. Ao depois, “...instalaram-se num quarto por cima da sacristia da igreja da Ordem Terceira de S.Francisco, onde a única mobília eram os caixotes em que haviam trazido sua modesta bagagem de além-mar".

A Igreja de São Francisco da Ordem Terceira de Florianópolis

A instâncias de Mons.Topp, assumiram a direção da Escola Paroquial, que de 40 alunos passou logo a 120. Mas acontece que alguns sacerdotes, de acordo com o fim especial a que vieram, preferiam trabalhar em paróquias abandonadas, especialmente nas do interior. De outra parte, povo e Governo se empenhavam pela fundação de um ginásio. Por várias e ponderáveis razões, por exemplo: falta de professores, dificuldades iniciais do idioma -, não lhes foi possível, aos mencionados Sacerdotes, aceitar cometimento dessa natureza. Pe. Lux, no entanto, querendo unicamente o bem do povo florianopolitano, resolveu oferecer, não só o futuro ginásio, como ainda a Escola Paroquial, aos Revmos. Padres Jesuítas de Porto Alegre. Foi assim que, nas imediações da referida escola, teve início, em princípios de 1905, o Colégio Catarinense, hoje, por sem dúvida, uma glória do Nosso Estado! (*)

 Padre Lux com seus alunos da Escola Paroquial


Carta onde os pioneiros Lux e Foxius saúdam o Brasil Meridional, seu novo campo missionário 

Hoje, domingo, dia 12 de julho (1903), está prevista a nossa chegada a Paranaguá, donde, embarcados em navio costeiro, prosseguiremos viagem até Desterro. Realmente, lá em baixo, contra os longínquos azuis, vemos, pelo óculo-de-alcance, os contornos escuros do planalto paranaense.
Lá se situa Curitiba, a sede episcopal. Lá se encontra, pois, a terra dos nossos anseios e de nosso destino. O vasto campo de nossas atividades.
É de coração que te saudamos, ó terra brasileira, nova pátria dos padres do coração de Jesus! Não te cobiçamos os tesouros e as riquezas. Para cá viemos, não para deixar-nos em contínua admiração pelas tuas belezas naturais. É propósito nosso, consagrar as nossas energias sacerdotais tão somente à grande obra da propagação e do fortalecimento da fé católica.
Urge, agora, arrumar a bagagem. Despedir-nos do bom “Maceió”, último pedaço flutuante da pátria. Despedir-nos dos simpáticos oficiais e, de modo especial, do sincero comandante Ohlerich. Dos bravos marinheiros e dos amáveis companheiros de viagem. Bem como dos amigos que ficaram na pátria. Chegou a hora de cessarem as alegres conversas, pois o dever, o suado labor nos chama.
Tudo de bom para vocês, queridos amigos! Tudo de bom para vocês, queridos alunos da escola apostólica! Procurem tornarem-se bons e valorosos sacerdotes do coração de Jesus, a fim de que, em breve, possam, lado a lado conosco, ou em nosso lugar, trabalhar na vinha do senhor que, lá ao longe, se estende ante nossos olhos.
Não se esqueçam de nós, quando em oração diante do tabernáculo do senhor e diante da imagem da mãe de deus!
Saudações mil!
Pe. Lux e Pe. Foxius.

Tradução: Padre Eloy Dorvalino Koch


Carta do Padre Lux ao Padre Peters Sobre a Fundação Missionária dos Padres Dehonianos SCJ no Brasil Meridional


Vejo que o Senhor pretende saber algo a respeito dos primeiros entendimentos havidos em torno desta Missão e de seus Primórdios. Escrevo em forma epistolar. Peço que o senhor torne o texto mais palatável aos leitores.
Naquela época, já missionávamos em Regiões Estrangeiras, tal como sucedeu no Congo e no Brasil Setentrional. No entanto, pelo fato de a Congregação ainda não estar dividida em Províncias, às mencionadas Regiões foram enviados membros procedentes de todas as Nações. Mas a partir de 1902, manifestava-se um movimento favorável à separação da Província Alemã, bem como o seu desejo de uma Região Missionária para os alemães.
Pe. José Thoss, então Reitor da pequena Comunidade Sacerdotal em Münstergensen e, a seguir, Reitor da Escola Apostólica de Sittard (Holanda) -, escreveu-me uma carta a Bonn, onde eu residia. Pedia-me que eu procurasse um apropriado campo de apostolado para os Padres Alemães.
A seguir, fomos convocados para uma conferência a realizar-se em Sittard. Nela propus nos instalássemos numa destas Regiões: ou no Chile Meridional, ou na Argentina, ou no Brasil Meridional. Venceu esta última opção.
Pe. Germano José Schmitz foi incumbido destas sondagens. E uma vez bem sucedidas, Pe. José Foxius e eu fomos, em Junho (ou Julho) de 1903, como pioneiros, para a nossa Região Missionária. Na ocasião, Santa Catarina e Paraná constituíam uma só Diocese. Era Bispo de Curitiba: Dom José de Camargo Barros.
Chegados a Paranaguá, nos separamos: Pe. Foxius viajou antes, com destino a Florianópolis, ao encontro do Pe. Francisco Topp; e eu, a Curitiba, para me apresentar ao Bispo. Foi com ele acertado que os dois missionários nos fixássemos em Santa Catarina, e nos puséssemos à disposição do Pe. Topp. De modo que também eu viajei para Florianópolis.
Não obstante a preferência dos nossos confrades d’além-mar ser pela atividade pastoral -, eu achava que devia aceitar a proposta do Pe. Topp: a Escola Paroquial. Porquanto, assim eu poderia ganhar tempo e, com calma, tomar conhecimento das condições do país e do povo, evitando, pois, desacertos, ao aceitar Paróquias; e prevenir fiascos perante olhares, de algum modo, sempre desconfiados ante as primeiras iniciativas missionárias de alemães.
A situação escolar daquele tempo era lamentável. Segundo eu saiba, ainda não havia, em Florianópolis, nenhuma escola do governo. Com exceção do bem dirigido Colégio das Irmãs da Divina Providência, havia somente certo número de Escolas Particulares apoiadas pelo Município, e que, de modo algum, correspondiam às verdadeiras exigências. Também não era melhor a Escola Paroquial do Pe. Topp.
Em 1903, também chegaram os padres Henrique Meller e João Stolte. De modo que, em 1904, abrimos a escola nas laterais da Igreja de São Francisco. A escola foi logo freqüentada, e simultaneamente, por crianças de classe média e por aquelas de classe alta da cidade.
Além de, em primeiro lugar, nos dedicarmos ao ensino -, nossos padres tiveram de pedir auxílio a vários senhores da cidade, tais como: P. J. B. Peters e o Prof. Bueno de Gouveia, da Escola Normal.
Além do nosso magistério na Escola Paroquial, dávamos atendimento pastoral na Igreja de São Francisco. Um pouco antes do Pe. Topp, a vida-de-igreja estava tão para baixo, que raramente alguém vinha à igreja ou freqüentava os Sacramentos. Com o seu zelo total pelos fiéis, e por longos anos, a Igreja tomou um forte impulso. É que faltavam operários na Vinha do Senhor para devolvê-la a uma florescente cidade católica. Pe. Topp era quase o único Sacerdote para aquelas 12 a 15.000 almas.
Quando lá chegamos, só estava representada uma Congregação Religiosa: a das Irmãs da Divina Providência. Também na Igreja de São Francisco, então inteiramente abandonada, e pertencente a uma antiquada Ordem Terceira -, brotava, revigorada, a vida católica. Mais e mais, aumentavam a assistência à santa missa e a recepção dos Sacramentos.
Havia muito que fazer em termos de limpeza e arrumação. Quando assumimos a Igreja, ninguém, até então, se havia importado com o melhoramento do seu ambiente. Só em certas ocasiões, lá era celebrada a santa missa. Devido à umidade, os paramentos ficaram manchados, e roídos pelas traças. O interior do templo, notadamente o altar, estavam abandonados e imundos.
Mas com a ajuda de alguns piedosos e zelosos membros da Ordem Terceira, houve muito escovar e lavar, muitos remendos e novas costuras. De maneira que, em breve, a tão abandonada Casa de Deus brilhava em trajes novos e mais dignos. Tornando-se, aos poucos, uma Igreja alegremente freqüentada por todas as camadas da sociedade.
Nesses trabalhos de faxina, também nos cabia levar em conta as muitas urnas de restos mortais, que se encontravam acomodadas em toda parte nas laterais da Igreja, bem como embaixo e atrás do altar-mor.
O que revela um gesto de veneração para com os parentes falecidos. Como o senhor sabe, junto aos povos latino-americanos é uso não enterrar os defuntos, mas depositá-los em catafalcos construídos no rés-do-chão.
E os membros da Ordem Terceira desejavam, pois, depositar seus falecidos na Igreja da Ordem. Neste sentido, passados alguns anos, retiravam os corpos dos esquifes, e os depositavam em urnas de mármore, a seguir, colocadas nas laterais da Igreja.
Pessoas mais pobres, sem condições de providenciar urnas dispendiosas, contentavam-se com qualquer nicho ou desvão atrás ou debaixo do altar-mor, onde, sem qualquer invólucro, ajeitavam os restos mortais. Alguns iam ao extremo de colocá-los no vão do pedestal duplo das imagens dos santos. Sendo que assim podiam ser conduzidos em procissão pela cidade.
Bem pode o senhor imaginar quanto trabalho deu essa faxina. As bem fechadas urnas até que davam pouco trabalho desagradável. Muito, porém, os inúmeros crânios e ossos escondidos por toda parte, em todo canto, em cada nicho do altar.
Uma vez que as repetidas solicitações pelo jornal não obtinham respostas, resolvi fossem as urnas enterradas debaixo de uma das torres da Igreja. Em meio à crendice popular, ainda correu, por muito tempo, o rumor de que, naquela torre, aparecia uma alma penada: a “mulher seca”.
Aproveitei o primeiro ano para fazer algumas excursões pelo interior do Estado, com o objetivo de melhor conhecer as suas condições. Uma após outra, fomos assumindo as Paróquias de Brusque, São Bento e Itajaí.
Com o correr do tempo, a Escola Paroquial era insustentável. O povo desejava a ampliação da Escola para a Fundação de um Curso Ginasial. Para tanto, porém, faltavam-nos condições financeiras e professores.
Nesta situação, o povo decidiu apelar para os Padres Jesuítas do Rio Grande do Sul. Estes, no entanto, rejeitaram o pedido, pois não queriam fazer-nos concorrência.
A fim de contornar a situação, e também para corresponder à insistência dos nossos Padres, que queriam trabalhar na Pastoral -, eu dirigi, pessoalmente, aquele pedido aos Padres SJ, isto é, no sentido de eles fundarem o Ginásio. Com a sua anuência, deixei esmorecer a Escola, e fui enviando os nossos Padres para várias Paróquias.
Creio, prezado P. Peters, que o relato será o bastante, para o Senhor formar um quadro aproximativo da época para a qual deseja informações.
Caso o senhor desejar algo a mais, é só me comunicar. [...]

Tradução: Pe. Eloy Dorvalino Koch scj
Digitação: Karina Santos Vieira

Notas Explicativas:
Encontram-se na Pasta Individual do Padre Gabriel Lux scj:
1- Carta original, em alemão e manuscrita: uma doação de Beatriz Kormann ao Diretor do Appal, em 1983;
2- O texto em alemão foi digitado por Úrsula Rombach, 03-06-2007



Os Padres Gabriel Lux, José Foxius e João Stolte com os alunos da Escola Paroquial de Florianópolis


 A Congregação em Brusque

Em meados do ano de 1904, o Pe. Lux percorreu várias regiões do Estado de Santa Catarina, a fim de certificar-se pessoalmente das reais necessidades espirituais das populações do interior. Nesta ocasião, passou também por Brusque. E o Pe. Antônio Eising, que já lhe havia dirigido veementes apelos no sentido de enviar sa¬cerdotes que o coadjuvassem na imensa Paróquia, renova então, pessoalmente, o pedido, oferecendo-lhe a Paróquia. Pe. Lux atende. E o primeiro Sacerdote Religioso a trabalhar na cura d’almas em Brusque, foi o Pe. João Stolte scj, como Coadjutor do Pe. Eising. Em sua homenagem, foi escrito o opúsculo Pioneiro Dehoniano em Brusque.

Padre Antônio Eising

 Padre João Stolte

Em fins de julho de 1904, recebera ele, o Pe. Solte, o honroso convite de fazer o sermão sobre o Senhor Bom Jesus, numa igreja de Florianópolis. Pois apesar de não se haver familiarizado ainda com a língua portuguesa, eram muito apreciados os seus sermões, em parte decorados com rara facilidade, e apresentados com espírito apostólico, naturalidade e arte. Não chegou, porém, a proferi-lo. 
Transferido pelo Superior Pe. Gabriel Lux, embarcou no navio costeiro "Max”, e aportou em Itajaí aos 4 de agosto. No dia seguinte, teve como condução um carro-de-mola, que o trouxe a Brusque, onde pernoitou. Indo no dia 6, pela manhã, rezar a missa na então capela de Azambuja. Precisamente no dia em que iria proferir o aludido sermão em Florianópolis. 
Passou a Coadjutor do Pe. Eising por alguns meses apenas, para sê-lo então do Pe. Lux, Vigário pela Provisão de 4 de outubro de 1904, dada por D. Duarte Leopoldo e Silva, segundo Bispo de Curitiba. Pe. Eising, como vimos, retirou-se para Blumenau, onde ingressou na Ordem Franciscana. E Pe. José Sundrup, do Clero Diocesano, e que lhe fora Coadjutor por três anos -, foi nomeado Capelão de Azambuja, e em seguida transferido para Joinvile, em 1905. 
Em princípios de 1905, chegaram os seguintes Padres do S. Coração de Jesus na recém-assumida Paróquia de Brusque: Gabriel Lux (Superior e Vigário), Meller, Lindgens, Schüler e Wollmeiner. Pe. Lux foi Vigário desde 4 de outubro de 1904 até 20 de agosto de 1905. De 19 a 25 de agosto, efetuou-se a 2ª visita pastoral, feita por D. Duarte Leopoldo e Silva, 2º bispo de Curitiba, ocasião em que Pe. João Stolte, pela provisão de 21 de agosto, fôra nomeado Vigário; sendo que Pe. Lux passava a Fabriqueiro-Administrador de Azambuja. (*)

Dom Duarte Leopoldo e Silva com os Padres Antônio Wollmeiner, Henrique Meller, Henrique Lindgens, Gabriel Lux, João Stolte, José Foxius e Francisco Schüller em agosto de 1905 em Brusque


Fase de Empreendimentos e consolidação em Brusque: 1904-1920

A fase de consolidação operava-se na Paróquia propriamente dita; a de empreendimentos, em Azambuja. Por consolidação, entendo o trabalho de manter e firmar as obras existentes, e a mais completa dedicação à cura d’almas. Por empreendimento, a realização de novas iniciativas, de trabalho mais de ordem material, como construções - se bem que destinado ao espiritual. Por conseguinte, não se nega, até certo ponto, a este o que se atribui àquele, e vice-versa. Assim como a conservação do mundo é de importância igual à de sua criação, também manter e consolidar iniciativas é tão importante como concretizá-las. E porque a consolidação não se reveste de tanto brilho, pode até tornar-se mais meritória.

Brusque no começo do século XX

 Brusque no começo do século XX

A Igreja matriz São Luis Gonzaga de Brusque no começo do século XX



Fase de empreendimentos em Azambuja

Depois da visita pastoral em Brusque, D. Duarte se dirigiu a Blumenau com a mesma finalidade. De lá baixou um Decreto a lº de setembro, que desmembrava: da Paróquia, o Santuário de Azambuja, elevando-o à dignidade de Santuário Episcopal, a ele anexo o hospital e todo o território, "provendo no cargo de Fabriqueiro-administrador... ao Revmo. Pe. Gabriel Lux, a quem concedia todas as faculdades para dirigir, reger e administrar o dito Santuário e Hospital, como Delegado da Autoridade Diocesana...”. A esta provisão seguiu-se imediatamente outra: no mesmo dia, nomeando o sr. José Kohler auxiliar do Pe. Lux.
Esse decreto, bem como a Provisão referente a Pe. Lux, constituem um marco importante e decisivo para o desenvolvimento de Azambuja.

 Padre Gabriel Lux no início de seu ministério no Brasil


A fase de administração do Pe. Gabriel Lux, SCJ, experimentou grande progresso. Cedo ele sentiu a necessidade de ampliar o hospital ou empreender uma nova construção, alternativa esta preferida pelo Bispo.
O Pe. Lux não perdeu tempo; já em 1905 lançou-se a levantar um prédio de alvenaria. É o que hoje abriga o "Museu Dom Joaquim". O Hospital antigo ficaria reservado para asilo de velhinhos e aleijados. Prossegue a nova construção com muitas dificuldades; por um lado, a extrema pobreza do povo, por outro lado, a obra era considerada avançada para aquele tempo.
Mesmo assim, e desta vez com um auxílio de 25 contos do Governo, deu-se começo em 1909, à construção do hospício de alienados. Com tais obras, o Pe. Lux pretendia racionalizar o atendimento aos doentes: um pavilhão para asilo, outro para enfermos em geral, e um terceiro para dementes.
Entrementes, em 1908, Santa Catarina passara a ser Diocese, desmembrada de Curitiba, sendo eleito para seu 1º Bispo Dom João Becker. Este visitou Azambuja em 1909 e 1911. Manifestou, nessa ocasião, grande admiração pelas obras em andamento neste pequeno recanto e já com fama de sagrado.
O novo Hospital, com 2/3 da construção pronto, foi inaugurado em 1911. No ano anterior, o número de pessoas internadas somou: 330 no hospital, 22 no asilo e 8 no hospício. Por volta de 1915 chegou o Dr. Melcopp, o 1º médico a trabalhar em Azambuja.
O Hospício de alienados fundado pelo Padre Lux foi o primeiro estabelecimento do gênero no Estado, e que serviu até 1942, quando foi transferido para a Colônia Sant'Ana (curiosamente os tijolos do seu prédio forma usados depois para a construção do atual Santuário de Nossa Senhora de Azambuja; já o local do Hospício foi ocupado pelo Seminário Metropolitano Nossa Senhora de Lourdes). Os dois Excelentíssimos Senhores Bispos de Florianópolis: D.João Becker e D. Joaquim Domingues de Oliveira, não lhe regatearam, ao zeloso e fiel administrador e competente arquiteto e construtor, os mais expressivos elogios, perenizados no Livro do Tombo do Santuário. 
Vale anotar que o grandioso edifício do Pe. Lux construído para o Hospital (àquele tempo chamado de Santa Casa de Miserciórdia), a partir de 1927, e por vários anos, serviu ao Seminário Menor da Arquidiocese. Desde 1960, o antigo Hospital e Seminário se transformou no importante Museu Arquidiocesano Dom Joaquim.
Em 1920, Pe. Lux se retirava para Vargem do Cedro. E substituiram-no, sucessivamente, os seguintes padres scj: Vilibaldo Junkmann, José Borgamnn, Carlos Keilmann e Henrique Lindgens. Em 1927, encerravam-se, em Azambuja, as atividades dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, sucedidos, então, pelos Revmos. Padres da Arquidiocese. Inicialmente, na pessoa do mui benemérito Pe. Jaime de Barros Câmara, DD. Reitor do Incipiente Seminário, mais tarde, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro. Por sem dúvida, uma glória da Igreja! (*)

Azambuja em 1907: já se tem as fundações do novo prédio do Hospital

1909: O novo prédio do Hospital está com as obras bem adiantadas

1915: Azambuja com a sua primeira ermida, o Santuário, o Asilo. o Hospital e o Hospício de Alienados

1915: Prédio do Hospital construído apenas em dois terços por Padre Lux

Santuário de Azambuja: o primeiro de Santa Catarina

 A primeira sede do Hospital de Azambuja

O Hospício de Alienados

 As Irmãs da Divinda Providência no Hospício com o grupo feminino

Padre Lux no Hospício com o grupo masculino

O primeiro prédio do Asilo

Vista para Hospício, Hospital, Asilo e Santuário

 O antigo Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio de Azambuja

Azambuja

O antigo prédio do Hospital, hoje Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, cujo projeto fora concluído na reitoria do Padre Jaime de Barros Câmara: vista frontal

O antigo prédio do Hospital, hoje Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, cujo projeto fora concluído na reitoria do Padre Jaime de Barros Câmara: vista traseira

Vista de Azambuja atualemente: O Seminário, o Museu. o Santuário, o Hospital

 Azambuja: notar a gruta

Fonte : 
KOCH, Eloy Dorvalino. Gabriel Lux em trilhas missionárias. Brusque, 2010 (Texto inédito).
KOCH, Eloy Dorvalino. Catolicismo em Brusque: Recordação do Centenário. Brusque: Sociedade Amigos de Brusque, 2010.


A Relação de Dom Joaquim com Azambuja

O Complexo de Azambuja sempre foi considerado como “a menina dos olhos de Dom Joaquim Domingues de Oliveira”. Isso porque desde a primeira visita pastoral, do então, Bispo de Florianópolis, este, foi tomado de ternura pelo “Vale das Graças”, por todo aquele espírito de sacralidade e caridade que naquela época era muito forte nas obras azambujanas.
Já em 1915 o Bispo considerava o vale o melhor local para a instalação do futuro seminário diocesano. Por isto, indagado por Padre Gabriel Lux scj se estava satisfeito com o que vira o Bispo, indicando o então prédio da Santa Casa de Misericórdia (hoje Museu), disse que faltava estar escrito “Seminário Diocesano” no frontispício do prédio.
Aí entra um mal entendido sobre a saída dos padres dehonianos de Azambuja em 1927. Azambuja era um curato e tinha uma administração particular em nome da, agora, Arquidiocese de Florianópolis, dentro da enorme paróquia de São Luis Gonzaga, que compreendia, em território, os atuais municípios de Brusque, Guabiruba e Vidal Ramos. Portanto, os padres dehonianos estavam sobrecarregados de trabalhos, tendo ainda aos cuidados o Seminário Menor Sagrado Coração de Jesus, da congregação SCJ, no Centro de Brusque.
Há aí outra questão: oficialmente os dehonianos nunca foram responsáveis pelo Complexo de Azambuja. O que ocorreu é que na época da criação do Santuário, desmembrado na paróquia de Brusque, o Bispo de Curitiba, ao qual Brusque então estava subordinada, nomeou o então pároco, Padre Lux, Cura do Santuário e administrador do Complexo. E isso era natural, já que a paróquia brusquense estava sob os cuidados dos Dehonianos. Além do mais, boa parte das paróquias do nordeste catarinense forma ocnfiadas em diferentes momentos aos dehonianos, por conta da falta de padres na região. Além disso, o Bispo, que tinha plena confiança nos dehonianos, não iria entregar a administração de um complexo diocesano nas mãos de qualquer um, e neste ponto os dehonianos tinham uma fama muito boa. 
Acontece que quando Padre Lux foi transferido para Corupá não foi nomeado um novo “reitor”, mas apenas padres dehonianos foram tornados responsáveis por Azambuja, sem o mesmo vínculo e responsabilidade do antigo reitor Padre Lux.
Por conta desses excessos de afazeres o atendimento a Azambuja ficou prejudicado. E esse atendimento, e também a administração, não deveriam ser prejudicados, pois, o Complexo compreendia muitas obras já naquela época: Santuário, Hospital, Hospício Asilo. Vale lembrar que o único santuário do estado era o de Azambuja e que muitas pessoas vinham de longe para ali rezar e pagar promessas.
Diante disso, e das constantes reclamações das irmãs da Divina Providência, que trabalhavam no Complexo, somado à sobrecarga dos padres dehonianos e da necessidade de transferir o recém-fundado Seminário Metropolitano para longe do agito da capital Florianópolis o Arcebispo resolveu por decreto transferir o Seminário para Azambuja e pelo decreto entregar o atendimento e administração do Complexo para o clero arquidiocesano, tendo como primeiro responsável o Padre Jaime de Barros Câmara, futuro Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro.
O problema dessa história não foi o feito, mas o método empregado por Dom Joaquim: por decreto, sem consulta aos dehonianos (embora na Cúria de Florianópolis já fosse tida como oficial a transferência do Seminário para Azambuja semanas antes, como consta no Diário do Reitor, o que faz supor que o ato administrativo do Arcebispo não foi tão intempestivo quanto se supõe). E daí surgiu a falsa história de que o Arcebispo tomou Azambuja dos dehonianos. Na verdade o Arcebispo agiu de acordo com o Direito Canônico que previa total poder do Arcebispo no Curato, que, para todos os efeitos, era de responsabilidade da Arquidiocese. Só que esse gesto majestático, de uso absolutista do poder, típico da época, e tendo em Dom Joaquim um zeloso representante, foi muito mal acolhido. Mas, na prática foi um bem para os dehonianos, que se viram com um grande problema a menos a ser administrado. Dali para frente tudo seguiria em ritmo ordeiro. De fato não há notícia de alguma reclamação formal dos dehonianos em relação ao ocorrido. E nunca houve rixa entre dehonianos e diocesanos. Ao contrário, não poucas vezes os seminaristas dehonianos e diocesanos participaram conjuntamente de eventos, o que ocorre até hoje.
Voltando à relação de Dom Joaquim com Azambuja, cabe notar que o local na Arquidiocese de Florianópolis que mais diretamente teve o destino traçado pelo arcebispo foi Azambuja. Todas as obras realizadas aí tiveram o aval joaquino. Algumas foram ideias mesmo do Arcebispo.
Nos 53 anos de episcopado joaquino em Florianópolis o antigo santuário foi demolido e o novo construído e consagrado com grande pompa em grandiosa solenidade.
O antigo prédio do Hospital, que serviu também ao Seminário foi completado
O novo hospital foi construído, bem como o segundo prédio do Asilo. A antiga ermida deu lugar à gruta com a capela dos ex-votos.
O Morro do Rosário, ideia do Arcebispo, foi construído “à toque de caixa”: começado em 1950, teve seu monumento principal inaugurado já naquele ano e concluído em 1954.
Mas a obra mais afetada pelo Arcebispo foi mesmo o Seminário. A instituição foi iniciada na casa paroquial da catedral, na capital e logo transferido para uma casa na mesma cidade. Mas, o Arcebispo não gostou e resolveu transferi-lo para Azambuja, onde sempre quis que estivesse.
Os reitores do Seminário, bem como demais formadores, sempre foram escolhidos sempre entre os melhores nomes do clero. Não por acaso são nomes lembrados até hoje, muitos alçados ao episcopado e até ao cardinalato, caso de Dom Jaime, o primeiríssimo reitor.
Por isso mesmo a excelência do Seminário foi sempre máxima, sendo conhecido internacionalmente pela brilhante formação naquele período áureo, ainda que tenha passado por dificuldades de adaptações desde o Concílio Vaticano II, como toda a Igreja.
Tanta excelência que já o terceiro reitor do Seminário foi seu ex-aluno: Padre Afonso Niehues, que depois se tornou sucessor de Dom Joaquim no governo da Arquidiocese. A semente foi tão bem plantada que substituiu velha árvore que a originou quando o tempo desta passou.
O antigo prédio do Seminário foi aumentado em 1947 e já se planejava novo aumento, quando foi sugerida ao arcebispo a construção de novo prédio para o Seminário em 1952. E assim se fez imediatamente. E assim a pedra fundamental foi benta em 1957. Já em 1960 o novo prédio passou a ser ocupado e o antigo, com sua planta original, foi tornado Museu Arquidiocesano Dom Joaquim.
Por fim, o novo prédio do Seminário foi inaugurado nas comemorações do áureo jubileu episcopal do arcebispo, sendo o ponto alto da festa. Foi também o canto do cisne do arcebispo já octogenário. Sopravam os ventos renovadores do Concílio Vaticano II é o arcebispo, depois de oito décadas, tinha dificuldades para entender (mas não para aceitar) a renovação. Assim, o menino Afonso que Dom Joaquim acolheu no seminário recém-fundado em Florianópolis, e que esteve a frente da mudança do mesmo para Brusque, o sucedeu no governo arquidiocesano, e depois o sucedeu por também no título de Metropolita quando “aquele que governou com solicitude” (cf. Rm 12, 8) foi chamado pelo Pai para a vida eterna.
Mesmo assim, o nome de Dom Joaquim continua forte na Azambuja amada, que era visitada pelo menos três vezes por ano pelo Arcebispo (início e término do ano letivo do Seminário e festa de Nossa Senhora de Azambuja). Se o corpo do arcebispo repousa na Catedral de seu governo, seus demais pertences estão guardados e expostos no outro local de seu coração, para lembrar o zelo de um fiel príncipe da Igreja: Joaquim Domingues de Oliveira.

RICARDO BECKER MAÇANEIRO

Membro da AESA (Associação dos Ex-Alunos do Seminário de Azambuja)

Brusque, 18 de maio de 2013, 47º aniversário da morte de Dom Joaquim.







No Convento Sagrado Coração de Jesus de Brusque em 1953 nas comemorações de 75 anos de fundação da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus e 50 anos de presença dehoniana no sul do Brasil (precisamente no território da Arquidiocese florianopolitana). Nessa ocasião Dom Joaquim doou à congregação o terreno onde se encontrava o antigo (e se encontra o atual) Convento (o terreno pertencia à Paróquia São Luís Gonzaga.



 Congresso Eucarístico Internacional no Rio de Janeiro, 1955

Azambuja









Em Brusque com o ilustríssimo Cônsul Carlos Renaux